Friday, December 7, 2007

navegar é preciso, viver não é preciso


eu queria contar tudo, tudinho, da viagem. assim, também pra eu mesma não esquecer. mas é que é muita coisa, e eu não sei contar de fora sem antes contar de dentro.
e pra contar de dentro, eu preciso começar do fim - portugal. portugal foi a última viagem dentro da viagem. acho que talvez isso tenha ajudado o meu gostar. pois quando eu cheguei lá foi logo como tivesse voltado pra casa. pra uma casa que nunca nem fui.
não tenho palavras pra descrever lisboa. é lindo. mas lindo de um jeito diferente de tudo que vi na espanha (e eu vi muuuuuita coisa linda por lá).
fui lá na torre de belém. e no monumento construído lá de onde saíram os descobridores. e tirei fotos pensando no descobrimento. e fotos rindo da A. rindo de mim pensando no descobrimento. mas no meio de toda brincadeira e risada tinha uma alegria imensa.
e eu ri muito. ri dos portugueses falando. mas não foi de deboche não. é que eu me senti no meio de uma piada de português que era da vida real. todos os personagens da piada falando e vivendo a vida real. assim, de verdade, sério.
e fui almoçar na casa de uma família portuguesa. família de verdade. e portuguesa de verdade. com direito a filhos, netos, casa cheia, bacalhau, batatas ao murro, doce português, e muito vinho. gente boa, decente, preocupada em mudar o mundo.
pois isso também foi lindo. não sei se foi sorte (= ter me hospedado com P., amiga de A., pessoa batalhadora, engajada socialmente e com o coração do tamanho do mundo) mas acabei achando que aqueles portugueses deviam ser como todos os portugueses. e aqueles portugueses amavam o brasil. mas não assim como os gringos que fui conhecendo pela vida, que amam o exótico que vive no seu imaginário, construído às custas de muitos carnavais, mulatas e belezas tropicais. amavam com um carinho paternal, de quem tem orgulho do filho que gerou e que conhece bem a fundo.
mas também amavam e se preocupavam com todos os outro países de língua portuguesa. conheciam a africa e seus problemas. e trabalhavam pra ajudar, pra ajudar a construir um mundo melhor.
saí de lá bêbada de tanto vinho e conversa. e teve conversa e discussão sobre todos os assuntos. e teve criança levada pra brincar e fazer graça. criança que se colou em mim e ria das minhas sandices. e me fez ir na casa dele. e lá fui eu na outra casa, tomar chá. e saí ganhando livro. porque eles também eram que nem eu, daquelas pessoas que se empolgam tanto com o que lêem que querem que os outros leiam também. fiquei tão emocionada. porque melhor que ganhar presente é ganhar presente de gente que nem te conhece direito e que te dá o que é seu. é meio como a pessoa tirar do seu próprio prato pra te dar.
só sei que saí de portugal com a certeza de que tenho que voltar. voltar lá pra onde tudo começou. quer dizer, um dos nossos começos.

1 comment:

Unknown said...

como fotógrafa e como participante deste momento.... quero dizer que você escreve muito bem o que sente.
continue neste caminho
beijos
eu