Thursday, December 27, 2007

céu de brigadeiro

fui andar no aterro e o céu tá tão lindo, o mar tão reluzente, que eu chega fiquei mais feliz.

Tuesday, December 25, 2007

e ainda ficou melhor...


pra completar o bom natal ainda teve um outro presentão daqueles que não tem preço.
um amigo de infância, pessoa queridíssima, que tinha sumido do mundo, nos presenteou com sua presença no nosso natal.
todo mundo ficou super emocionado, mexido e teve que fazer força pra segurar a onda e agir o mais natural possível. é que ele, mais novo que eu, tem mal de parkinson. e a coisa já tá num estágio que ele treme muito e tem uma certa dificuldade de locomoção. por isso sumiu de tudo e de todos, que esta barra é pesada demais pra pessoa não desequilibrar emocionalmente. pois pra completar a merdança, ele ainda era fotógrafo e câmera. e dos bons. e agora...bem, agora nada.
mas eu fiquei tão feliz de vê-lo ali!!! e mais feliz ainda porque ficamos horas no maior tê-rê-tê-tê, conversando sobre mil coisas do mundo e da vida, todo mundo no maior astralzinho.
e pelo menos por uma noite foi como se não houvesse tanta dor e perda, e a vida fosse simples e alegre, como se o amor pudesse mesmo ser maior que tudo.
mas afinal, não era isso mesmo que o cristo veio nos ensinar?

Monday, December 24, 2007

pai natal

uma das coisas que me divertiu em portugal foi descobrir que eles chamam papai noel de "pai natal". já nem sei porquê achei graça, mas dado que estava achando graça de tudo, não é nenhuma surpresa.
só que agora, pensando melhor, é um nome bem bacana. não fica aquela coisa infantil de "papai" e nem fica muito personalizado na figura de noel. pois o pai natal pode muito bem ser um espírito.
e pra mim isso tem tudo a ver.
acho esta época do ano um momento muito difícil. as pessoas ficam muito agitadas, ansiosas, agressivas até, e muitas vezes deprimidas. tudo isso embolado com o calor do verão que chega, então já viu.
mas eu gosto de pensar no natal, e no final do ano de uma forma geral, como um momento especial - de reformulação, balanço, limpeza, encerramento de um ciclo. e levo isso muito a sério, não fico só no "ano que vem a gente vai acordar diferente e vai ser tudo melhor".
então pra mim o natal mais feliz é aquele em que consigo realmente fazer estas coisas, me encarar de frente, deixar o orgulho de lado e tirar os esqueletos do armário.
esta última semana eu consegui fazer isso, e ontem, por conta disso, eu recebi o melhor presente do ano.
e o engraçado é que não foi nem uma coisa material. foi simplesmente um email.
história complicada e longa, que nem vale contar aqui. mas a minha versão simplificada desta história é assim - eu escrevi pro pai natal pedindo paz e ele me mandou um email atendendo meu pedido.


ps: ontem também descobri que eu tenho medo de papai noel. tava andando pela galeria condor e tava lá o "bom" velhinho esperando as crianças pra tirar foto. chega me deu nervoso de passar perto. pensei um pouco e acho que o nervoso é de ver uma pessoa enfiada numa roupa de veludo vermelha, atrás de uma barba imensa, neste calor dos infernos. boa coisa não pode ter por trás disso...

Monday, December 17, 2007

presente

se tem uma coisa que eu odeio nesta vida é fazer compras de natal. ou melhor, fazer compras. não agüento quando eu entro na loja, pula um vendedor em cima de mim e gruda. pergunta se eu tô procurando algum presente, se eu preciso de ajuda, etc, etc. os piores são os que, mesmo eu dizendo que só tô olhando, ficam ali do lado, me secando. fico tão incomodada com isso que saio logo da loja.
é que gosto de ficar pensando bastante antes de comprar qualquer coisa. tem uma porção de perguntas - se quero aquilo; se preciso mesmo; se dá pra pagar; se eu vou usar mesmo; quando eu vou usar; com quê roupa; em quê situação; se tá confortável; se a cor é da minha palheta; etc, etc.
e se for presente então, é pior ainda. pois a pior coisa do mundo é ter que comprar presente pra alguém. veja bem, digo "ter que" comprar presente, pois eu adoro comprar presente quando acho a coisa certa pra pessoa que eu amo. e eu sou meio doida mesmo - quanto mais eu amo, mais eu vou dando presente. e não é porque quero comprar afeto ou coisa assim. porque muitas vezes são os presentes mais bestas. uma vez comprei um chicletinho prum namorado. porque achei bonitinho. e achei que ia ficar mais bonitinho ainda embrulhado, dentro de uma caixa com mais uma porção de besteirinhas do gênero. outra vez dei pro mesmo namorado uma sacolinha cheia de coisa que peguei em lanchonetes, restaurantes e cafés - açúcar, catchup, mostarda, geléia, garfo de plástico, sal, pimenta, adoçante, manteiga, etc, etc. era nos estados unidos e eu achei graça de tanta coisa que a pessoa podia ir pegando, à vontade, nos lugares (na verdade achei graça e achei triste, ao mesmo tempo). no meio disso tudo enfiei um charuto cubano, que ele gostava de fumar charuto, e um imã de geladeira do elvis presley. porque afinal o elvis não morreu.
o fato é que acabo comprando uma porção de presentes pra quem eu amo porque vou lembrando das pessoas quando vejo certas coisas. então se é uma pessoa que eu ando pensando muito, daí já viu, né?
mas se eu "tenho que", daí eu travo. não acho nada. é tudo caro. tudo sem graça. sem vida.
esse é o problema das compras de natal. vira tudo uma obrigação infernal.
e nesse natal eu tô pior. pois caí de pára-quedas no natal, voltando de uma viagem no tempo e no espaço. tava lá na terra miguelita, lendo e aprendendo sobre reis e rainhas, mouros e quixotes.
claro, cheguei aqui sem o menor clima pra coisa nenhuma. ano passado eu ainda me animei de fazer os presentes. isso sim, eu curto demais. mas este ano, só de pensar em entrar no deserto do saara, com seu mar de gente e calor infernal, pra catar os materiais, já desanimei.
este ano não quero comprar e nem fazer nada. quero é descansar e tomar fôlego pra escrever a tese.
então tomei duas importantes decisões:
1- já que, por alguma matemática louca, tem um dinheirinho sobrando depois desta viagem enorme, resolvi que não vou comprar presente pra ninguém. vou é ajudar quem tem dinheirinho faltando. já pensei nuns jeitos e tô colocando em prática. as pessoas para quem eu costumo dar presente vão ganhar presente quando tiver presente pra eu dar pra elas. e não porque eu "tenho que".
2- já que pra criança não tem jeito, tem que comprar presente mesmo, resolvi que a criançada toda vai ganhar livro neste natal. nada de brinquedo. chega de entupi-los com brinquedos. então é só ir na livraria e comprar logo tudo de uma vez.
e resolvido o assunto.

Sunday, December 16, 2007

I don't want to stay here, I want to go back to Bahia...

da série "pequenas coisas":
tava eu andando no aterro, que este dia tá bonito e azul demais pra pessoa ficar em casa. de repente cruzo com um tiozinho cantando alto - "I don't want to stay here, I want to go back to Bahia. Eu tenho estado tão só..."
virei e encarei a senhora que caminhava ao meu lado. quase como se estivéssemos combinado, sorrimos uma pra outra. então ela disse: tá feliz, né?
fiquei em silêncio.
ela escutou o canto. mas eu ouvi a letra.

Monday, December 10, 2007

sonata para o homem bom

acabei de ver um filme tão lindo de morrer que me deu vontade de comentar aqui. era o A vida dos outros, mas que eu achei que poderia ter este outro título alternativo que eu botei no meu post.
não dá pra ficar contando, pois não gosto de estragar a graça de quem não viu (ha, ha, como se eu tivesse milhares de leitores aqui neste b-log...).
o caso é que era um filme que fala de bondade, desta inesperada e teimosa capacidade pra bondade que todo ser humano traz consigo.
e eu, que sou manteiga derretida de carteirinha, saí soluçando do cinema. pois este ano eu tive decepções muito grandes com pessoas que eu amava. foi bom pra eu aprender a não confiar e me entregar tanto. mas que nem no filme, eu quero em 2008 continuar acreditando no melhor das pessoas. sempre.

Saturday, December 8, 2007

o jardim das delícias terrenas

nesta viagem eu vi uma porção de quadros. mas uma porção meeeeesmo. tanto, que chegou uma hora que eu não conseguia ver mais nada. tudo era retrato de rei, rainha, anjo, virgem maria, jesus sofrendo, jesus na cruz, jesus de tudo-quanto-é-jeito-menos-feliz.
e no fundo, tanto museu valeu a pena apenas por umas muito poucas coisas. por exemplo, ver o Las Meninas do Velazquez, no Prado. e depois os estudos que o Picasso fez sobre este quadro, e que estão no Museu Picasso, em Barcelona. fiquei de olhinho vidrado na tela enquanto eles mostravam e explicavam as transformações que ele fez no quadro original. bagunçou com tudo e reinventou a realidade da fantasia.
e depois teve El Entierro del Señor de Orgaz, do El Greco, que eu vi em Toledo. imagine que eu paguei ingresso praticamente só pra ver isso. e adorei. pois foi das poucas coisas que vimos em toledo. e achei o máximo ir num museu por conta de um quadro apenas. fiquei um tempão debruçada na cerca só observando os detalhes.
mas nada disso se comparou ao Jardim das Delícias Terrenas do Bosch. e isso eu vi logo assim no terceiro dia, bem na entrada, no comecinho de ver as tantas coisas que tem no Prado. um quadro pintado em 1500 e que antecede, em muito, o surrealismo, com o qual parece muito.
olhei pra ele, e fiquei com vontade de ficar ali pra sempre, olhando cada coisinha do quadro e pensando naquilo.
fiquei pensando na vida e em como as coisas são. a gente vai vivendo uma porção, vendo tanta coisa diferente, mas o que fica mesmo é muito pouco. cada um tem um filtro diferente pra selecionar o que fica. e isso faz tooooda diferença. pois eu filtrei este jardim nesta viagem e fui carregando ele comigo pelo resto do tempo.

Friday, December 7, 2007

navegar é preciso, viver não é preciso


eu queria contar tudo, tudinho, da viagem. assim, também pra eu mesma não esquecer. mas é que é muita coisa, e eu não sei contar de fora sem antes contar de dentro.
e pra contar de dentro, eu preciso começar do fim - portugal. portugal foi a última viagem dentro da viagem. acho que talvez isso tenha ajudado o meu gostar. pois quando eu cheguei lá foi logo como tivesse voltado pra casa. pra uma casa que nunca nem fui.
não tenho palavras pra descrever lisboa. é lindo. mas lindo de um jeito diferente de tudo que vi na espanha (e eu vi muuuuuita coisa linda por lá).
fui lá na torre de belém. e no monumento construído lá de onde saíram os descobridores. e tirei fotos pensando no descobrimento. e fotos rindo da A. rindo de mim pensando no descobrimento. mas no meio de toda brincadeira e risada tinha uma alegria imensa.
e eu ri muito. ri dos portugueses falando. mas não foi de deboche não. é que eu me senti no meio de uma piada de português que era da vida real. todos os personagens da piada falando e vivendo a vida real. assim, de verdade, sério.
e fui almoçar na casa de uma família portuguesa. família de verdade. e portuguesa de verdade. com direito a filhos, netos, casa cheia, bacalhau, batatas ao murro, doce português, e muito vinho. gente boa, decente, preocupada em mudar o mundo.
pois isso também foi lindo. não sei se foi sorte (= ter me hospedado com P., amiga de A., pessoa batalhadora, engajada socialmente e com o coração do tamanho do mundo) mas acabei achando que aqueles portugueses deviam ser como todos os portugueses. e aqueles portugueses amavam o brasil. mas não assim como os gringos que fui conhecendo pela vida, que amam o exótico que vive no seu imaginário, construído às custas de muitos carnavais, mulatas e belezas tropicais. amavam com um carinho paternal, de quem tem orgulho do filho que gerou e que conhece bem a fundo.
mas também amavam e se preocupavam com todos os outro países de língua portuguesa. conheciam a africa e seus problemas. e trabalhavam pra ajudar, pra ajudar a construir um mundo melhor.
saí de lá bêbada de tanto vinho e conversa. e teve conversa e discussão sobre todos os assuntos. e teve criança levada pra brincar e fazer graça. criança que se colou em mim e ria das minhas sandices. e me fez ir na casa dele. e lá fui eu na outra casa, tomar chá. e saí ganhando livro. porque eles também eram que nem eu, daquelas pessoas que se empolgam tanto com o que lêem que querem que os outros leiam também. fiquei tão emocionada. porque melhor que ganhar presente é ganhar presente de gente que nem te conhece direito e que te dá o que é seu. é meio como a pessoa tirar do seu próprio prato pra te dar.
só sei que saí de portugal com a certeza de que tenho que voltar. voltar lá pra onde tudo começou. quer dizer, um dos nossos começos.

lar doce lar

viajar é ótimo, mas voltar pra casinha é ainda melhor....