Thursday, July 17, 2008

bricolagem de pensamentos

tô aqui escrevendo a tese. aos pouquinhos, mas tô. cada dia mais um tantinho, ajuntando umas idéias a princípio meio desordenadas, mas que ganham coerência a medida em que vou colocando-as em palavras, mexendo e remexendo daqui e de acolá.
pois tava aqui matutando que eu penso as coisas, o mundo e as pessoas assim também - ajuntando os caquinhos e depois admirando o mosaico.
estas últimas semanas fui pensando mais uma das minhas reflexões filosóficas de botequim, que não tem nada de tão extrordinário ou original além do fato de eu tê-las pensado a partir de uma série de experiências meio disparatadas.
claro, sempre tem um fator precipitador, algo que me faz finalmente dizer - tá vendo?!?!?
e esta coisa foi o programa do happy hour de ontem, que era sobre o uso de antidepressivo e o preconceito que existe contra isso. o programa era pra desmistificar o uso de antidepressivo, mas virou uma ode ao dito cujo. e foi justo isso que me deixou meio bestificada.
porque mal se falou sobre o que é depressão e porque de repente todo mundo tem isso e todo mundo precisa de remédio. foi só "depressão existe e antidepressivo é bom", e ponto final. agora caberia ao mundo simplesmente aceitar isso como natural e não discriminar (e muito menos questionar!!!) o uso crescente de antidepressivos.
digo isso não pra condenar o uso de antidepressivos. muito pelo contrário, sei que há casos em que é extremamente importante e necessário. só não acho que é só isso. tem muito mais em jogo, inclusive pensar o que em nossa vida e nossa atitude diante do mundo e das coisas facilita a instalação de um processo depressivo.
fiquei lembrando de um ex que tinha dores de cabeça lancinantes (além de uma porção de outras mazelas físicas) e que não se cuidava nem um tico. eu ficava aflita com aquilo é claro, e o questionava a respeito. ele respondia que estava se cuidando sim, que tomou tal e tal remédio (anti-inflamatórios e analgésicos) e que ficou de molho um tempo. pra depois voltar a fazer todos os estragos e exageros que o deixavam mal e com dor novamente. então isso é se cuidar? abafar o sintoma? a dor? e continuar fazendo tudo torto?
tudo bem, tomar anti-inflamatório e analgésico. na hora em que a dor pega feio a gente fica meio alucinado e quer mais é se livrar daquilo. mas depois que o pior passa é repensar nosso estilo de vida, né?
pois acho que é igual com anti-depressivo. e com uma porção de coisa na vida da gente. todo mundo só quer se livrar da dor e do sofrimento, mas ninguém se dispõe mais a olhar pra estas coisas de frente e com coragem. entender a função que aquilo tem na nossa vida pra finalmente aprender a conviver com isso numa boa. pois dor e sofrimento sempre há de haver, depressão é justo quando a gente se atrapalha em conviver com estas coisas de uma forma saudável.
pelo menos é assim que eu acho.
e não tô falando isso pra cagar regra não. eu já passei por um episódio depressivo muito sinistro no final da minha adolescência. e saí dele sem remédio. não porque me recusasse a tomar remédio, mas porque não atinei que aquilo era depressão. pra mim o problema era outro (não menos sério, mas outro...). o caso é que não só saí disso, mas saí disso um pessoa imensamente melhor. foi doloroso? demais. poderia ter sido menos doloroso e longo? talvez. mas o caso é que isso teve uma função. me fez rever uma porção de coisas e mudar de uma forma bem radical. não digo que um anti-depressivo fosse me roubar desta experiência, mas talvez ela não tivesse sido tão marcante.
de qualquer forma, o que eu queria falar era mais simples do que ficar pregando ou condenando anti-depressivo. queria falar é dessa impaciência e pouca disponibilidade que as pessoas hoje em dia tem para aprender com as experiências e mudar. fica todo mundo no mesmo lugar, repetindo os mesmos erros, e simplesmente manejando todas as cagadas resultantes destes erros com a droga que for.
ai, ai. tem horas que me dá um cansaço...mas daí eu me lembro que tudo muda a seu tempo e ao seu modo. depois de muita porrada ou pouca. com ou sem antidepressivo.

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