Wednesday, January 9, 2008

as degradadas

pois estávamos na casa de H. participando dos tradicionais festejos franceses do dia de reis e o papo descambou pra uma idéia antiga de A. para um bloco de carnaval. eu nunca havia entendido direito o "conceito" da coisa. mas alguns vinhos e uma champagne ajudaram e muito a inspiração da galera.
a idéia, como eu já disse, foi de A. quando bem jovem ela era daquelas católicas que reza e tudo. pois ela sempre encasquetou com o Salve Rainha. eu já tinha ouvido trechos disso na música do Cordel do Fogo Encantado, mas nunca havia dado muita trela. o que deixava A. intrigada era quando a reza falava das "degradadas filhas de eva". acho que era a feminista em A. que já dava seus primeiros sinais.
a idéia então foi fazer disso um bloco, o bloco das degradadas filhas de eva. achei engraçado quando ouvi isso pela primeira vez, mas a idéia de sair com mínimas folhinhas cobrindo o meu já um tanto rodado corpitcho de 36 anos não me empolgou muito. afinal, a pessoa fala em eva e a gente pensa logo naqueles econômicos trajes.
pensei - "isso não é pra mim." no domingo entendi que era justo pra mulheres como eu, e A., e P. e mas um tanto das minhas amigas. mulheres que justamente não são barbies pra sair com as tais folhinhas. mulheres rodadas sim, degradadas pra ser mais precisa. que se degradaram por um amor, por uns amores, e mesmo pela vida em geral. que são justo o oposto da bailarina da música do chico. que já se apaixonaram loucamente e quebraram a cara de verde e amarelo. e que também já se danaram no trabalho, em casa, com a família. que já se meteram em roubadas homéricas e continuam aí, inteiras, ou quase. manquinhas que sejam, que se juntem e riam de si mesmas. que ostentem orgulhosas suas cicatrizes, porque seus corpos também são testemunho de sua vida e de suas lutas.
então no carnaval eu tô lá. com folhinha ou sem folhinha.

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