Wednesday, September 2, 2009

revoltada

hoje eu fui tentar doar sangue no pro cardiaco e fui recusada como doadora. tava pra fazer isso desde a cirurgia da minha mãe em maio e só hoje consegui me organizar pra ir. cheguei lá, respondi o questionário e me botaram pra conversar com uma médica, enfermeira ou sei lá o quê. a mulher conversou comigo literalmente por dois minutos e me riscou da lista de doadores.
o que me deixou mais impressionada foi o modo como ela conduziu a coisa. no item quantos parceiros diferentes você teve no último ano eu havia colocado três. tudo bem que três não é pouquíssimo. afinal é mais do que dois, mais do que um e mais do que zero. mas também não é tanto assim, né? levando-se em conta que dois deles foram namorados e que só com um deles eu transei sem camisinha (justo o namordo mais sério), acho que isso não me classifica automáticamente como uma pessoa com um "comportamento sexual de risco". nossa, eu escuto tanta história tão, mas tão mais cabeluda do que as minhas.
o pior é que a mulher não chegou nem a perguntar sobre este relacionamento no qual eu transei sem camisinha (sendo que ele terminou em março). não perguntou se era um relacionamento longo, se eu conhecia a pessoa há muito tempo, etc, etc. o cara podia ser meu "namorido" meu deus. mas não. ela já veio me dizendo então que tinha que haver uma janela de um ano pois havia uma chance muito pequena deles fazerem o exame e não detectarem o virus.
fiquei pensando se estivesse ali uma senhora casada, toda certinha, respeitável, que dissesse que só transava com o marido há anos e anos e, claro, sem camisinha. certamente esta senhora respeitável não seria alguém com um comportamento sexual de risco. ainda assim, o marido dela poderia muito bem ser uma bicha louca, aprontando todas por aí, sem que ela tivesse noção alguma. e certamente nem a médica/enfermeira que conversou comigo hoje.
e ainda teve mais, ela já veio me informar isso com aquela introdução - "não pense que estamos aqui pra julgar ninguém, esta conversa é estritamente confidencial, etc, etc" e já foi logo pedindo pra uma outra enfermeira trazer um manual enorme com a lei que regula a doação de sangue. folheou aquilo mais de uma vez na minha frente, meio sem graça e meio querendo se justificar, enquanto eu, sem paciência, só pedia pra ela ir direto ao ponto - "então quer dizer que eu não posso doar sangue hoje, né?" e ela - "não, veja bem...a rigor não..." e olhava pro tal manual todo sublinhado.
saí de lá putaça, é claro. a princípio por ter perdido meu tempo pra ir lá dar com os burros n'água. depois por toda esta conversinha que no fundo era obviamente extremamente preconceituosa. eu até nem ficaria tão puta se ao final de uma conversa mais longa ela chegasse a conclusão de que eu tenho de fato um comportamento sexual de risco. mas esta conversa não houve. no lugar dela um manual, uma porção de rodeios e um sorrisinho amarelo. ah, e um "volte sempre", divulgue, doar sangue é muito importante! só se eu for lá num convento procurar, né? ou num seminário...e ainda assim, é possível que a emenda seja pior do que o soneto...
enquanto isso, o último bunitinho com quem eu saí (o terceiro dos meus parceiros sexuais do ano), respeitável professor universitário, também deu de fazer contínuas insinuações sobre o meu comportamento sexual. uma coisa meio sutil, meio na brincadeira, mas óbviamente preconceituosa.
o mais irônico é que eu acho que ele chegou a esta conclusão de que eu sou tão promíscua quanto a médica/enfermeira quis insinuar que eu era baseado em pequenas coisas como o fato de eu ter uma bolsinha com camisinhas do lado da minha cama. tipo, não passa pela cabeça do ser humano que isso é um sinal de que eu sou uma pessoal responsável e prevenida.
mais irônico ainda é que apesar dele já ter insinuado também que eu tenho saído com outros caras além dele, quem tá saindo com outra pessoa é ele. soube disso por via de fofoca de terceiros e fiquei ainda mais triste dele não ter tido o culhão de falar isso pra mim diretamente (foi falar isso pra outra pessoa que me conhece).
mas o foda mesmo é perceber não só o quanto as pessoas são hipócritas, mas como elas projetam suas próprias perversões e mentiras nos outros sem nem se dar ao trabalho de conhecê-los de fato.

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