faz um bocado de tempo que eu não escrevo nada nesse blog. quando posto alguma coisa, é de outrem. é que a vida anda corrida. tá bem boa, mas tá corrida. tão corrida que sobra pouco tempo pra pensar muito nas pequenas coisas e menos ainda pra escrever sobre elas aqui.
mas hoje de manhã me deparei com um post de uma pessoa que nem conheço bem no facebook, e me deu coceira de escrever. no post ela falava, de forma um tanto embolada e num jargão psi, algo que já tenho observado intuitivamente há tempos - ninguém tem mais escuta pra dor e tristeza.
assim, a gente já sabe que agora todo mundo toma remédio para qualquer coisa que perturbe minimamente sua vida emocional. mas tem também esse outro lado que é o do mundo e de quem está em volta. ou seja, não é apenas o próprio sujeito que tem tão pouca tolerância à dor, todo mundo à sua volta também. então é um tal de "não fica assim não", "vai passar", "vida que segue", "deixa pra lá", "entuba". as pessoas ficam incomodadas e desconfortáveis se alguém próximo está sofrendo e só o que sabem dizer é esse bando de besteiras.
licença aí meu povo, que eu quero passar com a minha dor!
mas nem era disso exatamente que eu queria falar. isso quem fala, com outras palavras, é a tal conhecida que postou no facebook.
o que eu fiquei matutando na minha cabeça são as implicações éticas disso tudo. é que quando a gente banaliza assim tanto o nosso sofrimento quanto o do outro, a empatia e a compaixão enquanto bússolas para uma conduta moral e ética, perdem sua força e sentido. afinal, se nada é tão importante e nem deve fazer sofrer muito, então tudo (ou quase tudo) é permitido.
tem uma amiga muito querida, talvez das poucas leitoras desse blog tão singelo e das pequenas coisas, que está sofrendo um bocado e passando por um momento muito difícil na vida. eu tenho tentado ajudar como posso e nesse processo descobri que a coisa mais preciosa que posso fazer por ela agora é sofrer junto com ela um pouco que seja. não estou falando de entrar na fossa só por solidariedade. estou falando de coisas mais singelas e prosaicas como a tal da empatia e da compaixão. poder virar pra ela e dizer - seu sofrimento é legítimo e justo, minha amiga! só de te ouvir e imaginar como dói, já dói um pouco em mim e me faz ter mais respeito e consideração pela sua dor. acima de tudo, me faz pensar que por mais que façamos cagadas na vida e machuquemos um ou outro, mesmo sem querer (e isso acontece! e isso é inevitável!), é nosso dever ético tentar não fazê-lo pelo simples fato de que sabemos o que é a dor, nossa e dos outros, e sabemos o que dói, em nós e nos outros.
e é assim a minha versão da ética das pequenas coisas.
Thursday, May 24, 2012
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