O PRESENTE DOS MAGOS
O PRESENTE E OS MAGOS
"Se não souberes esperar, não encontrarás o inesperado, pois é inencontradiço e de difícil acesso" (Heráclito, Fr. 18)
Para a maioria de nós, a Epifania, ou o Dia de Reis evoca o momento no qual os Magos visitam o Menino Jesus, oferecendo-lhe, cada um, um presente.
A meditação que segue quer pensar este presente e este presentear, para tentar talvez resgatar algo que ficou soterrado sob a avalanche da troca quase compulsiva de objetos na qual se transformou o nosso hábito de dar presentes no Natal.
Em sua etimologia, a palavra "Epifania" nos fala de um vir à luz, de um aparecer que ao aparecer se mostra no brilho da aparência (phainein: revelar, mostrar; phainestai: aparecer, e, no ato de aparecer mostrar-se, revelar-se no brilho da aparência, e o prefixo grego epi: sobre, a; indica um subir, uma elevação). A palavra "Epifania" nos fala, portanto, do brilhar de uma Luz que se des-cobre a nós. Esta eclosão da Luz, este brilhar-para, acontece em um momento que não provém de uma decisão nossa, mas de uma atenção nossa.
“E sucedeu que a estrela - que tinham visto no Oriente - os precedia, até que chegando sobre o lugar onde se achava o Menino, parou. Vendo (novamente) a estrela, sentiram uma grandíssima alegria. Entrando na casa, viram o Menino com Maria, sua mãe, e prostrados Lhe prestaram homenagens, A seguir, abrindo os seus cofres, ofereceram-Lhe de presente ouro, incenso e mirra”(Mateus 2, 9-12).
Os Magos são os sábios, na compreensão arcaica da palavra: aqueles que discerniam os sinais do tempo, que liam a fala oracular do Cosmos. Os Magos são aqueles que estão atentos, receptivos e abertos ao relampejar do inesperado no comum e cotidiano. Lêem o sinal nos céus e empreendem a longa viagem, atravessando o deserto na fidelidade à estrela. E quando a estrela pára e se detém sobre a casa onde há uma criança e uma mãe, esta cena aparentemente tão comum, o coração de cada um deles é habitado por uma grande alegria: estando verdadeiramente presentes, podem receber a Presença que se mostra a nós a cada instante como dom, como presente do presente.
Assim, repensando o Fragmento de Heráclito que citamos no início de nossa reflexão, podemos dizer que o inesperado presenteia quem sabe esperar.
O presente do Mago, do sábio, é a própria sabedoria no seu sentido verdadeiro: a possibilidade de acolhermos a presença do momento presente. Estar presente é estar acordado, no sentido de desperto e atento, e também no sentido musical de estar afinado, sintonizado com a Presença que se presenteia enquanto inesperado, porque não somos nós que controlamos o Tempo, mas este que se dá a nós. Luz e sombra. Ganho e perda. Silêncio. Palavra. Todos, presentes do Tempo.
Dizemos: estou esperando um bebê. Aqui, a espera é acompanhamento amoroso de um processo em gestação, de um ser que se dará à Luz.
Saber esperar é abrir-se para a revelação do mundo enquanto Epifania, luminosidade que se manifesta no mais comum e cotidiano a uma consciência que a albergue. Neste momento, o Mago nos visita, nos habita. O presente dos Magos, é a aceitação e o reconhecimento da manifestação do sagrado no presente.
Mas esta Presença sempre presente só a podemos receber quando abrimos mãos de nossa pre-ocupação. Quando renunciamos à cobrança do passado e à ansiedade com o futuro. Então livres, porque desapegados, nos encontramos na ambiência da manjedoura, na plenitude do simples.
Saber esperar é também acolher o fato de que não é sempre que o presente dos Magos nos presenteia, porque nem sempre podemos acolher: tal é a nossa condição. Assim, os Magos nos visitam e se vão. Retornar a errância na fidelidade a uma estrela é sempre e novamente fazer a experiência da falta, da busca, e da esperança. Quando aprendemos novamente a aceitar e amar a própria viagem, novamente a estrela ilumina o que sempre esteve e está Aqui.
Saturday, July 9, 2011
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