"Houve uma vez um jovem que era muito inquieto. Ele viajava de um vilarejo a outro, esperando encontrar um mestre que lhe ensinasse algo de valor. As pessoas o viam se deslocar de um lugar para outro e o tratavam com generosidade, porque era um jovem bondoso e muito bem-educado. Certo dia, ele encontrou um mestre que era considerado muito sábio.
O jovem disse a ele: 'Sou muito inquieto e não consigo parar de correr de um lugar para outro. É desse jeito que sou, e as pessoas acham isso estranho. Gostaria de poder ser feliz e de poder me assentar.' O sábio escutou o jovem, pensou um pouco e disse: 'Compreendo sua condição e posso ajudá-lo. Mas, se quer que eu seja de alguma ajuda, não pode questionar o remédio que vou receitar.''Ó sábio mestre', replicou, 'naturalmente não vou questionar suas ordens. Vou segui-las à risca, mesmo que isso signifique que não farei nada mais pelo resto dos meus dias.'
O sábio então disse: 'Você precisa se entregar à estrada e viajar por toda parte. Nas suas viagens deve procurar o homem mais feliz do mundo. Quando encontrá-lo, você deve pedir a camisa dele.' Parecia um tratamento incomum, mas o jovem se comprometera a fazer o que fosse pedido, portanto se despediu do sábio e se entregou à estrada.
Viajou para o norte, viajou para o sul, para o leste e para oeste e conheceu todo tipo de gente. Alguns eram ricos, outros eram pobres. Alguns eram corajosos e outros, covardes. E perguntou a todos se sabiam onde poderia encontrar o homem mais feliz do mundo.
O jovem recebeu muitas respostas. Algumas pessoas disseram: 'Sou muito feliz, mas há alguém mais feliz do que eu do outro lado da colina'. E outras disseram: 'Deixe-nos em paz ou lhe daremos uma surra.' O jovem procurou por todo o seu reino e viajou para o reino vizinho, e depois para outro. Os dias se tornaram semanas e as semanas se tornaram meses, e depois anos. Ele não descansou por um só momento. Até que um dia, exausto devido à busca, parou para descansar sob uma árvore à beira de uma grande floresta e tirou os sapatos.
Enquanto estava ali sentado, escutou uma gargalhada. Era tão alta que os pássaros não pousavam, mas ficavam voando em círculos. E ela era tão trovejante que fazia as folhas caírem das árvores. Qualquer outra pessoa teria se chocado com o som, mas o jovem - que a essa altura já não era tão jovem - ficou muito empolgado. Calçou novamente os sapatos e seguiu o som da gargalhada.
A floresta era densa e escura. Também seria silenciosa, não fosse pelo estrondoso som da gargalhada vindo ao longe. O homem seguiu o som e, logo, chegou a um lago. No lago havia uma ilha e, na ilha, uma casinha. A gargalhada parecia estar vindo da casa. O homem não encontrou nenhum barco, então pulou na água e nadou até a ilha.
Encharcado e congelado, ele foi até a casa e bateu à porta. Não houve resposta, mas a gargalhada não parou. Então, reunindo toda a sua coragem, o homem abriu a porta. Lá dentro, sobre um tapete, estava sentado um velho. Usava na cabeça um grande turbante, da cor de morangos. Estava rindo tão efusivamente que as lágrimas rolavam pelo seu rosto. O buscador avançou silenciosamente até chegar junto à borda do tapete. Então disse bem baixinho: 'Perdão, Mestre, mas sou de um reino muito distante e fui enviado para encontrar o homem mais feliz do mundo. O senhor me parece incrivelmente feliz. Por favor, diga-me, há alguém mais feliz do que o senhor?'
O homem sorridente tirou um lenço da manga e assoou o nariz. 'Sou muito feliz', disse, gargalhando de novo, 'e posso dizer que certamente não conheço ninguém tão feliz quanto eu. Hahahahahaha!''Então, senhor, posso lhe pedir um favor?''Sim. Qual?''Poderia tirar sua camisa e dá-la a mim?'
Ao ouvir isso o velho gargalhou e gargalhou, e gargalhou e gargalhou. Riu tanto que todos os animais da floresta gritaram de medo. 'Meu rapaz, se tivesse se dado ao trabalho de olhar pra mim', respondeu o sábio, chorando de tanto rir, 'teria visto que não estou usando nenhuma camisa.'
Os olhos do jovem se arregalaram quando percebeu que isso era verdade. Estava prestes a dizer algo, mas o sábio estava desenrolando o seu turbante. Desfez volta por volta, deitando o tecido vermelho sobre o tapete. Somente quando chegou ao fim foi que o homem percebeu a verdade: o sábio não era outro senão aquele mestre que o enviara na sua busca.
'Diga-me, ó Mestre', indagou o jovem, 'por que não me informou que era o homem mais feliz do mundo desde o início? Teria me economizado um bocado de tempo e incômodo.''Porque', respondeu o sábio, 'para que você pudesse se acalmar, precisava experimentar certas coisas, ver outras coisas e conhecer várias pessoas. Eu sabia que isso seria um processo longo, mas, se eu lhe dissesse no começo o que ele envolveria, você teria fugido e nunca teria sido curado.'"
(pg. 359-362, in Nas noites árabes - uma caravana de histórias, por Tahir Shah)
Sunday, March 20, 2011
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