tô aqui tentando escrever e até que consegui produzir bem nos últimos dias. mas no momento tô bem aflita. é que, podem acrescentar aí na minha lista de medos, eu tenho medo de crente. e bem em cima de mim mora um casal crente. de vez em quando o cara começa a pregar, e é sempre bem alto, aos berros, com uma voz mega raivosa. no momento é uma mulher gritando - "aleluia, aleluia!". é uma voz histérica, nervosa, ameaçadora, sei lá. e escuto os passos dela pra lá e pra cá, num andar inquieto. quanto mais escuto os passos, e a voz, mais inquieta fico eu também. isso não é de Deus, penso eu, não pode ser. e também penso igualzinho quando eles põem música evangélica aos berros de tarde (vez por outro é isso...).
esta semana, segunda à noite, o cara tava tão descaralhado que começou a pregar bem alto assim, à meia-noite. vê se pode? vê se é hora de ficar fazendo isso? isso não é coisa de Deus. Deus não assusta assim os outros, não lhes tira o sono. pelo contrário, como diz o guimarães rosa, "ele faz é na lei do mansinho".
e eu aqui sozinha, sem saber o que fazer, rezo pelos que rezam em excesso. peço a Deus por aqueles que não apenas lhe pedem, mas lhe tomam o lugar e a voz. pedem e concedem, como se tivessem tamanho poder.
então fui na sala e liguei a vitrola bem alto. botei um disco antigo (como todos que tenho aqui), do quinteto armorial. um som tranquilo de rabeca, aquela coisa arcaica, com gosto das nossas origens mouras lá pela península ibérica.
os passos e os gritos acabaram de parar. graças a deus. mesmo.
Thursday, October 9, 2008
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