Saturday, August 30, 2008

lá onde o beberibe e o capibaribe se encontram pra formar o oceano atlântico

vim acompanhando a comitiva para apresentar o herdeiro para a família. então a desculpa era passar um tempinho a mais com o gordo e mermão, mas não dá pra negar que eu tô feliz pra burro de estar em recife.
eu já andava com estas reflexões sobre o meu instinto festeiro e sobre como herdei isso da minha mãe. mas chegando aqui eu me lembro que isso é uma coisa da família toda.
eu tenho uma família enorme. tipo assim - 13 tios e tias e uns 50 primos (de primeiro grau, sem contar com os de segundo grau). difícil juntar tudo de uma vez, é claro. até porque uns tios já morreram, outros são brigados, e também porque sei lá, é muita gente pra coordenar, né?
mas basta juntar alguns que a algazarra é garantida. todo mundo falando ao mesmo tempo, rindo, contando histórias, lembrando de casos, alguns dos quais já viraram lenda no folclore da família. porque além de tudo, na minha família são todos uns brincalhões.
ah, e todo mundo adora comer. e todo mundo cozinha muito. e quando a gente chega aqui todo mundo chama pra jantar, almoçar, lanchar, ou o que valha. e toca de comer tapioca, queijo coalho, cuzcuz, suco de cajá, bolo de rolo, e por aí vai.
e houve um tempo também em que bebiam. mais os homens, é claro, que esta terra é machista pra burro. mas tem as histórias das canas que fulano ou cicrano tomou e das coisas que aprontou. e eu como sou a "carioca tresloucada" saía cercada de homens (meus primos e seus amigos. as minhas primas mulheres sempre foram mega caretas) pra farrear com eles.
ah, e tem os carnavais. ai, os carnavais que já passei aqui... até já curti alguns bons carnavais do rio, mas nada se compara a um carnaval em olinda. é uma coisa difícil de explicar pra quem nunca foi. e pra quem foi a gente só consegue falar - ai como é bom...
na verdade acho que eu não consigo explicar direito pra ninguém a alegria que é estar aqui. mistura saudade, com afeto, família, um gosto por tudo que é daqui, e daí danou-se tudo.
então eu vou parar é por aqui mesmo e ir lá fora, pois estou em maracaípe no momento e tem um céu danado de lindo pra eu olhar.

Wednesday, August 27, 2008

jogando conversa fora

não me considero a pessoa mais desinibida do mundo. tem épocas que eu entro numas vergonhas que não tem quem me tire. na verdade são épocas em que estou mais ensimesmada e perdida nas minhas idéias, medos e nóias.
mas tem outras épocas, como agora, que eu dou papo pra estranhos. assim, não é que eu dê papo pra qualquer um. se eu acho a pessoa chata eu não engato muito no papo.
mas o caso é que nestas épocas eu dano de achar as pessoas muito mais interessantes. ou eu acabo atraindo gente interessante, sei lá. claro, nestas épocas estou mais leve, desencanada, achando o mundo um lugar bacana e cheio de coisas interessantes pra descobrir e observar.
só sei que eu curto estes encontros aleatórios. e eu sei pela minha história de vida que às vezes eles geram amizades e relações bem duradouras.
tem a história de como eu conheci a lynn, por exemplo, que vem a ser ex-namorada do zach. e o zach eu conheci porque estava hospedada na casa do mark em nova iorque uma vez. mark que vinha a ser grande amigo do matt, marido da tatiana, amiga do meu irmão. então tava eu na casa do mark, e elka, namorada do mark na época, me leva pra sair. fomos encontrar o zach, que ela conheceu numa festa, mas que já tinha avistado antes no metrô a caminho da festa. quando eu conheci o zach, engatamos num papo incrível logo de primeira. acabei ficando mais amiga do zach do que de elka, e do mark (mas não do que do matt e da tatiana, pois estes eu já conhecia de tempos).
só que depois que o zach veio ao brasil e trouxe a lynn, no meio do carnaval, eu virei irmã da lynn. tipo assim, passamos juntas um dos melhores carnavais da minha vida. lembro até hoje da gente nas carmelitas, em santa, encharcadas de chuva e rindo pra caralho.
lynn morava em nova iorque na época. e eu tinha acabado de ser aceita na universidade de chicago. lynn me disse que um dia iria morar em chicago. um ano depois, tendo largado o emprego em nova iorque, se enfiado num cargueiro e rumado pra asia por uns meses, lynn foi parar em chicago. foi aí que viramos irmãs. quer dizer, já éramos irmãs desde que nos conhecemos, pois apesar de eu ser morena e ela loira, eu e ela parecemos. temos um sorriso semelhante e todo mundo sempre perguntou se éramos irmãs. então viramos irmãs.
a esta altura, zach já tinha sumido da minha vida total.
pois então. tô escrevendo isso tudo pois nas últimas semanas eu conheci pelo menos umas três pessoas assim. teve o bunitinho do dia da dança, que eu nem conversei na hora mas que gostei de cara, não sei bem porquê. e depois teve sabrina, que eu conheci na fila pro visto do consulado americano. sabrina conhece mó galera que eu conheço também, tá indo fazer curso de fotografia em nova iorque, e já trocamos emails e tels. pensei inclusive em colocar sabrina em contato com o zach (não deve ser difícil achá-lo, né?)
neste último sábado, teve doroty (que fala assim - dorotí, e nao dóroti, como a gente pensa logo). eu tava na festa meio chata, num lugar esquisito, e de repente doroty estava do meu lado. fui jogando conversa fora e quando vi estava amiga de infância de doroty. doroty pegou emails e tels, mas nem sei se vamos nos ver ou falar novamente. só sei que antes de ir embora virei pra doroty e falei pra ela aproveitar bastante a vida e ser feliz.
é o que eu tenho feito ultimamente.

Sunday, August 24, 2008

o fogo alegre da minha casa

ah, a festa de hoje me lembrou este poema da adelia prado, que eu adoro.

Humildade

Senhor, fazei com que eu aceite
minha pobreza tal como sempre foi.

Que não sinta o que não tenho.
Não lamente o que podia ter
e se perdeu por caminhos errados
e nunca mais voltou.

Dai, Senhor, que minha humildade
seja como a chuva desejada
caindo mansa,
longa noite escura,
numa terra sedenta
e num telhado velho.
Que eu possa agradecer a Vós,
minha cama estreita,
minhas coisinhas pobres,
minha casa de chão,
pedras e tábuas remontadas.
E ter sempre um feixe de lenha
debaixo do meu fogão de taipa,
e acender, eu mesma,
o fogo alegre da minha casa
na manhã de um novo dia que começa.

Adélia Prado

re-festança

pois hoje teve um festão aqui em casa. tô simplesmente acabada mas feliz. é sempre assim, me acabo pra organizar uma festa, passo o tempo todo correndo de lá pra cá, mas A-DO-RO ver a casa cheia de gente e, principalmente, criança. e hoje tinha uma porção de criança. de tudo que é idade e de tudo que é jeito. uma delícia.
e eu, exagerada que sou, fiz logo 5 bandejas de lasanha (embora não tão exagerada assim, pois sobrou apenas metade de uma lasanha e várias pessoas que supostamente viriam não vieram). todo mundo lambendo os beiços e eu toda boba porque sou cozinheira que gosta de um elogio.
comprei também tinta, papel, cola, lapis de cor, pilot, tesoura e etc. e um twister do high school musical (wooohooo!!!). e foi uma bagunça geral na laje. que se alastrou pelo resto da casa.
além disso, (re)encontros, sorrisos, carinho, música, xodós pra lá e xamegos pra cá. clarutcha, xameguenta como sempre, de vez em quando vinha, abraçava minhas pernas, ou me puxava pra ver sua pintura, ou simplesmente vinha gritando - ca-cáááá!!! (ah sim, eu sou a "Cá" dela).
o mais doido é que fui dormir as 5 da manhã. acordei às 8:30hs, meio de ressaca e tendo que agitar várias pendências antes da hora marcada (13hs). mermão querido, motivo primeiro de tanta farra, chegou mais ou menos cedo pra ajudar na logística. mas, pra variar, neguinho chegando e eu ainda na função (minhas produções sempre são mega plus).
depois foram chegando os amigos com quem eu estive ontem, numa noite que começou morna e acabou animadíssima. e ficamos todos rindo das goiabices do dia anterior.
acho que sou mesmo filha da minha mãe. ainda me lembro quando ela fazia umas festas assim e eu era criança, agitadíssima e feliz, brincando com os filhos dos amigos dela.
pois hoje estavam os amigos e os filhos dos amigos. torço muito pra que um dia nossos filhos possam passar isso adiante pra seus filhos, e assim por diante.

Thursday, August 21, 2008

porque que a gente é assim...

ai, mega tpm, uma irritação indescritível, implicando com tudo e com todos e me sentindo gorda, inchada, feia e chata.
puta-que-o-pariu!

Tuesday, August 19, 2008

o dragão


conheci um bunitinho na sexta que me fez lembrar este poema. uma história um tanto insólita, mas engraçada. assim um pouco como este poema.

O dragão

Semana que vem
chega-te pelo correio a lua
puro papelão
que aos teus dedos
transmutará em loiça

Não fosse a gripe
que me assolou esses dias
não fosse a preguiça
os livros e o sono
eu te mataria um dragão

Na entrada da tua vila
deixaria o bicho
pesado como uma hecatombe
(um hematoma na boca do estômago
as asas imensas de bomba
imersas numa poça de sangue verde)

Ora
não te assustes
sei que te acostumei com presentes mais delicados
mas não seria preciso guardá-lo
- telefonarias para o Departamento de Limpeza Urbana
avisando que um louco que te ama
deixou um sonho morto
na porta da tua casa

(Eucanaã Ferraz)

Saturday, August 16, 2008

nos bailes da vida

ai, ai. vou dizer que as últimas semanas tem sido bem difíceis pra mim. não que não tenham coisas boas acontecendo. mas teve uma porção, mas uma porção mesmo, de melecada acontecendo também. daquelas de derrubar a gente e fazer chorar encolhida num canto da casa. e chorar tanto que falta o ar.
mas eu aprendi a chorar pra depois poder rir. e rir eu sei também, como ninguém.
então tô eu neste momento meio esquizofrênico e ontem resolvi sair pra dançar. e só rolou porque foi uma decisão mesmo. tipo, escolher um lugar e coordenar a combinação toda foi uma certa tarefa.
mas deu tudo tão certo. juntei uns amigos queridos, alguns que vejo sempre e uns que não vejo nunca, e fomos todos, determinados, a bailar.
só sei que me acabei de tanto dançar. o corpo em forma, malhado no pilates, com a resistência da corrida, ajudou bastante.
e no final da noite eu tava que não me aguentava. mas feliz. assim, só por estar viva e ter saúde, poder dançar, e rir com os amigos, e fazer passinhos, e rir ainda mais, e azarar os gatinhos, ou simplesmente jogar conversa fora com estranhos, e voltar ao passado...quanto tempo que eu não dançava ao som do prince - don't have to be rich to be my girl...
aliás, esta semana, por algum motivo que não sei bem, eu fiquei futucando o passado. mas não as feridas e sim as coisas boas. voltei no tempo, pra chicago. e fiquei curtindo esta saudadinha gostosa. não de querer que aquele tempo voltasse (pois já passou), mas feliz por ter vivido tudo aquilo. sei que minha vida às vezes tomou rumos estranhos, inesperados, mas é bom poder olhar pra trás e pensar isso - com toda dor que é viver, foi bom, é bom...ah, sei lá. tô meio filosófica hoje.

ps: rosinha, este post é pra você! só faltou tu e paulinho ontem. eram DJs da casa da matriz, veja só, e dani e césar com a gente...

Tuesday, August 12, 2008

acabei

ontem fiquei até as tantas terminando de ler O Ensaio. às vezes sentia vontade de copiar um trecho, mas sabia que não ia ser a mesma coisa se tirado do contexto do livro. pois haviam páginas inteiras que eram pura poesia.
só sei que acabei e ficou aquele mixto de emoção, comoção, esperança e horror.
não sei mais o que dizer por agora. só sei que finalmente entendi porquê o Saramago é um dos maiores escritores da língua Portuguesa.

Sunday, August 10, 2008

o olho que vê

agora vou lendo devagar, não porque não queira terminar logo, mas de aflição que me dá.

"...então a mulher do médico compreendeu que não tinha qualquer sentido, se o havia tido alguma vez, continuar com o fingimento de ser cega, está visto que aqui já ninguém se pode salvar, a cegueira também é isto, viver num mundo onde se tenha acabado a esperança." (204)

Tuesday, August 5, 2008

cegueira

tô lendo o saramago assim de uma tomada só. mas putz grila, este livro é soco no estômago legal...

Sunday, August 3, 2008

das consequências inimagináveis dos nossos atos

"...A culpa foi minha, chorava ela, e era verdade, não se podia negar, mas também é certo, se isso lhe serve de consolação, que se antes de cada acto nosso nos puséssemos a prever todas as consequências dele, a pensar nelas a sério, primeiro as imediatas, depois as prováveis, depois as possíveis, depois as imagináveis, não chegaríamos sequer a mover-nos de onde o primeiro pensamento nos tivesse feito parar. Os bons e os maus resultados dos nosso ditos e obras vão-se distribuindo, supõe-se que de uma forma bastante uniforme e equilibrada, por todos os dias do futuro, incluindo aqueles, infindáveis, em que já cá não estaremos para poder comprová-lo, para congratular-nos ou pedir perdão, aliás, há quem diga que isso é que é a imortalidade de que tanto se fala,..."

(Ensaio sobre a Cegueira, José Saramago, 84)

Saturday, August 2, 2008

Salmo 30

"Porque a sua ira dura só um momento; no seu favor está a vida. O choro pode durar uma noite, mas a alegria vem pela manhã."

Friday, August 1, 2008

caminhos

isso tá na porta da minha geladeira, mas pelo visto eu tô precisando reler com mais frequência:

"Qualquer caminho é apenas um caminho e não constitui insulto algum - para si mesmo ou para os outros - abandoná-lo quando assim ordena o seu coração. Olhe cada caminho com cuidado e atenção. Tente-o tantas vezes quantas julgar necessárias...Então, faça a si mesmo e apenas a si mesmo uma pergunta: Possui esse caminho um coração? Em caso afirmativo, o caminho é bom. Caso contrário, esse caminho não possui importância alguma."

Carlos Castañeda