Friday, October 31, 2008

às vezes é preciso ter paciência

sei que escrevi estes dias que estou neste momento "ser humano é bacana", mas sinceramente, tem dia que eu não tenho o menor saco...
ser humano às vezes perde a noção das coisas geral. ontem um deles expirou o prazo de validade comigo.
e pra completar passei o dia numa irritação dos diabos. como se não bastasse a música crente aos berros todas as tardes, agora é som de serra de azulejo da obra ao lado no pinico do meu ouvido o dia inteiro. não dá pra ser feliz assim. e nem trabalhar....

Wednesday, October 29, 2008

amor mais humano

"Esse progresso há de transformar radicalmente (...) a vida amorosa, hoje tão cheia de erros numa relação de ser humano para ser humano, não de macho para fêmea. Esse amor mais humano (que se produzirá de maneira infinitamente atenciosa e discreta, num atar e desatar claro e correto) assemelhar-se-á àquele que nós preparamos lutando fatigosamente, um amor que consiste na mútua proteção, limitação e saudação de duas solidões."
(Cartas a um jovem poeta, de Rainer Maria Rilke)

já devo ter lido este livro uma penca de vezes. esta carta em particular, três pencas de vezes. é no que acredito, cada dia mais. quanto mais envelheço, mais acolho e aceito a minha solidão. que não é só minha, é da condição humana (e paradoxalmente vou me sentindo cada vez menos sozinha).
cansada de relação "de macho para fêmea" (não, não mudei de time. longe disso...). cada vez mais interessada em relações de ser humano para ser humano. e meus amores estão mais humanos mesmo, assimzinho como ele diz.
e, percebi isso hoje na terapia, ando com o coração cada dia mais leve.

Monday, October 27, 2008

paquetá


este domingo eu fui a paquetá na barca do chorinho. e ainda fiz um mega picnic lá com um amigo querido. delícia total!
tinha esquecido como eu adoro paquetá. tem uma coisa brega, kitsch, sei lá. mas ao mesmo tempo um ar tão bucólico. e tem esta coisa de história, literatura e poesia nos cantos mais inesperados. a pessoa tá andando assim e de repente vê umas árvores lindas, centenárias. um coreto. uma casa antiga e linda. uma bicicleta velha. umas casas coloridas. a pedra da moreninha.
enfim. a única coisa ruim foi o calor. era tanto que não dava nem pra curtir direito.
e o chorinho? ai, o chorinho. se existe alguma trilha sonora pra paquetá, é o choro.

cansada de ficar doente

tô com uma dor de garganta que vai e volta. as unhas quebrando direto. e mais uns e outros problemitchas de saúde recorrente, pequenos mais chatos.
um saco. detesto ficar doente.

Sunday, October 19, 2008

elegia


noite chuvosa de domingo já é uma coisa melancólica. e eu ainda fui ao cinema com A. ver um filme triste...mas bonito também na mesma medida. é aquele cujo título foi muito mal traduzido por Fatal (em inglês Elegy).
eu nem sabia nada da história do filme antes de ver, mas A. comentou que havia lido o livro. disse que era sobre a morte e a finitude. e é mesmo. mas tem mais.
é também sobre a solidão humana, sobre o amor e seus desencontros. sobre a passagem do tempo. o insistir e o desistir. a fé e a descrença. a vida e a morte. tudo num vai e vem bonito, muito bem entrelaçado.
lembrei de um quadro do magritte que eu tenho no meu quarto.
na verdade eu tenho pensado muito neste quadro ultimamente.

Saturday, October 18, 2008

o anjo da guarda

de tempos que eu procurava este pequeno conto da cecilia meirelles. foi a primeira história que eu contei quando era contadora de histórias (se bem que acho que ainda sou um pouco). tava perdido no meio dos meus papéis guardados na casa da minha mãe.
vou copiar aqui pra não perder mais o meu anjinho da guarda....

"Descobrimento do Anjo da Guarda

A moça disse-me que estava longe da família, na grande cidade onde chegara para trabalhar e estudar. A imponência dos edifícios, a pressa da multidão, o tumulto das ruas, a agitação da noites, tudo a atordoava: e mal tinha tempo para fazer amizades.
Antes, sua paisagem era uma praça, uma igreja, um pequeno rio, ladeiras tranqüilas, jardins antigos, casas agradáveis onde, aqui e ali, alguém praticava exercícios de piano. As pessoas visitavam-se, contavam suas histórias familiares, aconselhavam-se. Havia pequenas festas, um pouco de dança, a música da filarmônica local, um grupo de teatro.
As moças sabiam muitas coisas, eram muito dotadas: bordavam, cosiam, confeitavam bolos, faziam flores. Ultimamente aprendiam até a executar objetos domésticos de matéria plástica. (Disso ela não gostava muito.)
Seus estudos chegaram a um ponto que despertaram a atenção dos professores. (Estudava música.) Todos acharam que era uma pena ficar ali, ajudando a cantar na igreja, ensinando solfejo às crianças : devia ir para um centro maior, receber outros estímulos, dedicar-se completamente à sua vocação. E ela foi.
Mas a grande cidade era assim, com tanta gente, ninguém prestava atenção a nada, havia música por toda parte, nos edifícios, pelas ruas, nas casas comerciais, nos mercados, nos restaurantes, e ela mesma já nem sentia a sua música, já não se ouvia, não se achava necessária.
O ambiente era desatento. Tudo entrava por um ouvido e saía pelo outro. E o que acontecia com a profissão acontecia também com a vida: prometiam coisas que não cumpriam, marcavam encontros que não se efetivavam, as colegas pareciam-lhe muito sofisticadas, e depois de ter observado um pouco, com a sua bem-organizada cabeça disciplinada por bemóis e sustenidos, chegara à conclusão de que (pelo menos por enquanto) não valia a pena namorar.
A moça, então, sentiu-se muito sozinha, desencorajada - e ali, com seus papéis de solfa na mão, parecia mesmo a própria musa Euterpe, exausta de modernidade e saudosa do Olimpo.
O que mais a assombrava era a ausência de apoio social: as moças de sua idade falavam de penteados; os professores, de taxas, reivindicações, abonos, e os rapazes discorriam sobre esporte - ou eram grandes mestres em toda categoria de arte, ou grandes condutores da humanidade, oradores e grevistas. Meio gangsters, meio líderes, desesperados de ambição.
Foi assim que, uma tarde, a moça pensou no Anjo da Guarda. Deus era grande demais, para atingi-lo: não tinha coragem. Chamou baixinho o Anjo da Guarda, para experimentar. Ao contrário, porém, do que ela esperava, o Anjo da Guarda respondeu. Passou a conversar com ele todos os dias. Todos os ruídos em redor se dissolveram: os barulhos do mundo e as conversas frívolas. Sozinha, ela fala com o seu Anjo da Guarda que, solícito, responde às suas dúvidas e resolve os seus problemas.
Voltada para esse paraíso interior, disse-me que é outra pessoa: tudo lhe parece claro, certo, com outro sentido. Seu mundo de música é o mesmo do Anjo da Guarda. E acha admirável que esse mundo possa existir dentro do outro, veloz e ruidoso, sem ser atingido em sua harmonia, livre de qualquer vulgaridade e aflição."

perder o nada é um empobrecimento

"O que não sei fazer desmancho em frases.

Eu fiz o nada aparecer.

(Represente que o homem é um poço escuro.
Aqui de cima não se vê nada.
Mas quando se chega ao fundo do poço já se pode ver
o nada.)

Perder o nada é um empobrecimento."

Manoel de Barros, em Livro sobre nada

Wednesday, October 15, 2008

a pedidos...

meu macaquinho simon na esbórnia dos "lençóis macios, amantes se dão, travesseiros soltos, roupas pelo chão..."

Saturday, October 11, 2008

sei não...

mais uma noite com meus novos lençóis e o holiday on ice continua.
não sei quanto tempo eles ainda vão durar na minha cama...

Friday, October 10, 2008

os lençóis macios

sou uma pessoa com umas tantas manias. nada muito sério, tipo TOC. diria que tenho uma personalidade obsessiva-compulsiva, mas que aprendi a me divertir com isso. então, para os mais incautos, fica só a impressão de que sou um pouco birutinha.
pois então. eu tenho obsessão com vermelho. adoro vermelho, muito. e já escrevi aqui dos lençóis de cetim vermelho que eu achei na xêpa da gringolândia. a princípio fiquei meio bolada de pegar lençol assim usado, dos outros. mas o lençol tava novinho e eu já lavei umas cinco vezes. como lençol de hotel também é coisa que todo mundo usa, acho que não estou pecando demais, né? quer dizer, afora o vermelho. e o cetim.
só sei que recolhi o lençol, mas nem usei de imediato e nem cheguei a trazê-lo comigo na volta da gringolândia. não coube na mala, então deixei guardado com A. lá mesmo em LA-la-land.
A. veio visitar recentemente e me trouxe este verdadeiro rubi-vermelho-cor-de-sangue.
eis que depois de lavá-lo mais uma vez, finalmente coloquei a tranqueira na cama.
já fazem duas noites que eu durmo neste mar bordeau e é difícil explicar tão insólita experiência! primeiro que passo a noite inteira deslizando de lá pra cá neste momento cetim. e depois porque acordo de manhã, olho pra cama e só consigo pensar - nooossssaaaa!
levanto me sentindo a própria cantora de cabaré. quanta luxúria! e o crente a pregar em cima do meu teto...

o floral e os sonhos

estes dias eu resolvi fazer um floralzinho pra mim. fazia um tempão que eu não tomava um floral e achei que o momento era propício. fiz um rescue também.
agora dei de sonhar loucamente. quer dizer, de lembrar os sonhos, pois sonhar a gente sempre sonha. mas uns sonhos tão desbaratados que até agora eu não entendo direito.

Thursday, October 9, 2008

na lei do mansinho

tô aqui tentando escrever e até que consegui produzir bem nos últimos dias. mas no momento tô bem aflita. é que, podem acrescentar aí na minha lista de medos, eu tenho medo de crente. e bem em cima de mim mora um casal crente. de vez em quando o cara começa a pregar, e é sempre bem alto, aos berros, com uma voz mega raivosa. no momento é uma mulher gritando - "aleluia, aleluia!". é uma voz histérica, nervosa, ameaçadora, sei lá. e escuto os passos dela pra lá e pra cá, num andar inquieto. quanto mais escuto os passos, e a voz, mais inquieta fico eu também. isso não é de Deus, penso eu, não pode ser. e também penso igualzinho quando eles põem música evangélica aos berros de tarde (vez por outro é isso...).
esta semana, segunda à noite, o cara tava tão descaralhado que começou a pregar bem alto assim, à meia-noite. vê se pode? vê se é hora de ficar fazendo isso? isso não é coisa de Deus. Deus não assusta assim os outros, não lhes tira o sono. pelo contrário, como diz o guimarães rosa, "ele faz é na lei do mansinho".
e eu aqui sozinha, sem saber o que fazer, rezo pelos que rezam em excesso. peço a Deus por aqueles que não apenas lhe pedem, mas lhe tomam o lugar e a voz. pedem e concedem, como se tivessem tamanho poder.
então fui na sala e liguei a vitrola bem alto. botei um disco antigo (como todos que tenho aqui), do quinteto armorial. um som tranquilo de rabeca, aquela coisa arcaica, com gosto das nossas origens mouras lá pela península ibérica.
os passos e os gritos acabaram de parar. graças a deus. mesmo.

a verdade e a compreensão

desde ontem não me sai da cabeça um dos meus trechos favoritos de um dos meu livros favoritos de uma das minhas escritoras favoritas - A Paixão segundo GH, da Clarice Lispector

"Se a 'verdade' fosse aquilo que posso entender - terminaria sendo apenas uma verdade pequena, do meu tamanho.
A verdade tem que estar exatamente no que não poderei jamais compreender."

Wednesday, October 8, 2008

budismo e psicanálise

tava organizando meus bookmarks e achei esta palestra maravilhosa do benilton, de quem sou fãzoca.
em tempos de pânico e incerteza, é bom lembrar de coisas assim.

grande sertão

"Amor é a gente querendo achar o que é da gente."

Tuesday, October 7, 2008

fora da ordem

"Eu não espero pelo dia em que todos os homens concordem

Apenas sei de diversas harmonias bonitas
possíveis sem juízo final

Alguma coisa está fora da ordem
Fora da nova ordem mundial"

Caetano Veloso

Monday, October 6, 2008

o sertão

"O senhor...mire veja: o mais importante e bonito, do mundo, é isto: que as pessoas não estão sempre iguais, ainda não foram terminadas - mas que elas vão sempre mudando. Afinam ou desafinam. Verdade maior. É o que a vida me ensinou. Isso que me alegra, montão. E, outra coisa: o diabo, é às brutas; mas Deus é traiçoeiro! Ah, uma beleza de traiçoeiro - dá gosto! A força dele, quando quer - moço! - me dá o medo pavor! Deus vem vindo: ninguém não vê. Ele faz é na lei do mansinho - assim é o milagre. E Deus ataca bonito, se divertindo, se economiza."
(Grande Sertão Veredas, Guimarães Rosa, pag. 21-2_

Saturday, October 4, 2008

as cem pessoas

ontem eu saí com uma amiga que eu conheci há tempos atrás. recentemente nos reencontramos por acaso e retomamos contato. aliás, isso é típico na minha vida.
o caso é que ela me chamou pra sair com um grupo de amigos dela, e lá eu fui carregando mais uns amigos meus. mó galera.
fomos num lugar surreal, que eu nunca nem ia advinhar que existia. cheio de gente diferente, de todas as idades e jeitos. era o albergue de um gringo que fica no meio de uma favela, aqui no catete. favela tranquilíssima, do lado do bope. um visual lindo. e um jazz bem bacaninha. e a casa me lembrava as casas de gaudi, com suas torres e passagens inusitadas.
a antropóloga em mim a-mou todo este exotismo. embora no final das contas nem fosse tão exótico assim, porque no rio tudo vira moda rapidinho.
enfim, o que eu gostei mais da noite foi conhecer os amigos da minha amiga e mais uns outros que conhecemos lá mesmo. de repente tava todo mundo no maior papo e rindo pacas.
pra variar, depois de um pouquinho de papo, fomos encontrando mil conexões aleatórias entre a gente. então puxei a teoria de um cara que conheci numa festinha há muito tempo atrás. nunca mais vi o cara, e o nosso papo foi relativamente breve. mas logo que começou este papo de - ah, então você conhece fulano? - ele me veio com a teoria.
a teoria é de que no rio de janeiro existem apenas 100 pessoas. o resto, é figurante.
pois ontem eu tava lá no the maze com umas 10 destas pessoas.

Friday, October 3, 2008

procura-se

Bolas
(Clara Averbuck)

"Culhão. Homem tem que ter culhão. Não aquela macheza de lutador de vale-tudo, nada disso. Isso aí de força física qualquer mané tem, aliás, força física é coisa de mané.
Eu estou falando de culhão, bolas.
Culhão de gostar de mulher forte e não fugir dizendo que prefere uma mulherzinha. De assumir um compromisso e não ficar se refugiando nos braços de umas putinhas de carne firme e bunda empinada quando a coisa apertar, só pra se sentir macho. Culhão de botar filho no mundo e cuidar, e agüentar a mulher histérica na gravidez, e agüentar ver o parto sem desmaiar. E ainda ter tesão depois.
Culhão de admitir quando está errado.
De bater o pé quando está certo.
De encarar a vida e não se acomodar pra deixar o sangue esfriar. De chorar quando sentir vontade, porque chorar é coisa pra macho. De se emocionar com algo mais do que futebol. De mandar tudo às favas às vezes e se mandar pra se encontrar. Culhão de ir embora quando as coisas são irreparáveis em vez de sentar a bunda no sofá e esperar uma intervenção divina. De tentar consertar tudo quando vale a pena.
Culhão de viver as coisas mesmo sabendo que pode se dar mal no fim. Mesmo tendo certeza de que vai se dar mal no fim. A vida não tem anestesia e anda de mãos dadas com a dor.
De não rir de piadas sem graça pra agradar. De assumir o que gosta e o que não gosta mesmo que vire motivo de chacota.
De ser absolutamente devotado a algo, música ou uma mulher, sem ter pudores ou se importar com o resto do mundo.
Culhão de ir atrás dos sonhos, por mais bestas e utópicos que pareçam. E conseguir realizá-los e calar a boca de todo mundo.
De se vestir como bem entender.
De tomar uns porres e dar uns vexames e fazer de novo depois.
De pedir colinho quando precisar em vez de ficar se fazendo de fortão.
De resistir às tentações da carne, porque a carne é fraca, mas a cabeça não pode ser.
De se jogar quando o abismo chama.
Culhão de trocar o certo pelo duvidoso sem pestanejar quando tem que ser feito, porque tem que ser feito.
De não fingir.
De falar em vez de ficar se esquivando. De não sumir e encarar as coisas quando devem ser encaradas.
Acho que é isso. Culhão. Você tem culhão? Espero que você tenha. Ou que o seu homem tenha. Ou aprenda a ter. Se bem que isso não se aprende, é inerente. Ou você tem, ou você não tem. Espero que você tenha"

Thursday, October 2, 2008

alegria teimosa

"O que Deus quer é ver a gente aprendendo a ser capaz de ficar alegre a mais, no meio da alegria, e inda mais alegre ainda no meio da tristeza! Só assim, de repente, na horinha em que se quer, de propósito - por coragem. Será? Era o que eu às vezes achava. Ao clarear do dia."
(Grande Sertão Veredas, Guimarães Rosa)

Wednesday, October 1, 2008

o fofo e a itália

cada dia mais vidrada na Grande Fuga para a Itália do James Oliver na GNT.
agora não sei o que eu gosto mais, se dele ou dos italianos e da itália.
só sei que ver isso tudo junto é uma delícia absoluta. dou risinhos de deleite toda hora.